terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cidreira, 1983


O ano era 1983, seria Inverno? Verão não era. O Sassi nos convidou para um final de semana na praia de Cidreira, onde sua família tinha uma casa. Éramos um bando ("e muitos outros"): Marley, Bete, Rômulo, Jaiçon, Lontra, Fortunato e eu, além do anfitrião. Talvez tou esquecendo alguém. Acho que alguém de Lajeado passou por lá, de moto. Seria o Daniel? Ah, se alguém tivesse uma foto...
Como o Sassi, eu conhecia Cidreira desde a infância (talvez nos tenhamos cruzado ali, sem saber), e levava uma impressão marcante da imensidão das dunas ("o deserto"), que eu tinha atravessado uma vez a pé, até a lagoa. Mas agora, pela primeira vez, não era verão.
Andamos, cantamos e dançamos pelas dunas e pela cidade deserta; alguém enfrentou o frio corajosamente, ensaiando um nudismo; brincamos de espelho e paramos para prestar atenção na água que corria na sarjeta, transformada pelos olhos maravilhados em um rio cheio de vida... Na falta de outra coisa, experimentamos fumar louro e até orégano.
E escrevi uma canção singela:

CIDREIRA

Vento vem e leva areia
Leva leve e vai e sempre
Traz a voz velada em ondas
Gritos risos

Tudo o que pudéssemos dizer não cabe
Todo o mundo sabe
Que nos olhos tem tudo

Tanta paz eu nunca vi
Mas posso ver
Que tudo é essência
É questão

Estamos sós
E além de nós só há
O sopro desse vento

M.e.r.d.a, 1982

Organizando a papelada encontrei um livreto da Mostra Estudantil Reveladora da Arte, ou M.e.r.d.a, publicado por estudantes da Engenharia da UFRGS, em 1982. Onde apareceram 2 poemas do Sassi

PARATI

A primeira fez nascer o sol
Acabou
O sol continuou no mesmo lugar
Tu chegaste
E com mãos de compreensão
foi tirando
pouco a pouco
as nuvens que cobriam seu brilho
Hoje ele brilha sem medo

SÉCULO XX

Esperava uma idéia
Esperava esperança
Esperança de seguir
Esperava entendimento
Esperava esperança
Esperança de uma raça
Uma bomba
Esperava...
e seguiu sonhando
Mas já estava morto