sexta-feira, 17 de junho de 2011

... e artes em geral

The Meaning of Art
Se os meus estudos de música na Universidade (a partir de 1984) me permitiam sugerir novas descobertas ao Sassi, na área de artes plásticas, era ele quem estava na dianteira. Sem nunca ter entrado num museu (que eu me lembre), àquela época, o pouco que eu sabia aprendi por tabela nas aulas de história da música. Já o Sassi tinha aquelas coleções de fascículos sobre os grandes pintores. Foi ele que me apresentou para Bosch, por exemplo. Mas a grande dica que ele me deu foram os livros do crítico e historiador inglês Herbert Read, especialmente A educação pela arte, uma obra revolucionária que eu só fui ler no meu exílio em Esmeralda, quando tinha tempo sobrando. Gostei tanto que depois comprei quase toda a obra desse sujeito que, com vasta erudição e escrita elegante, tornava tudo compreensível aos leigos. Recomendo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Música, música, música

Assim como eram raros os amigos com quem eu podia falar horas sobre literatura, era difícil encontrar quem gostasse tanto de música e gastasse com ela tantas horas de vida como eu (salvo, naturalmente, os músicos). Um desses era o Sassi, e logo algumas cenas antológicas me vêem à mente.
Private Collection
Private Collection, de Jon & Vangelis (disponível em CD)
Uma das mais marcantes foi a noite em que ouvimos Horizon, de Jon & Vangelis, na casa do Sassi. Acredito que o Irno teve naquela noite uma compreensão da música num nível nunca antes alcançado por ele.
 Vivaldi, Bach e a música barroca em geral eram compartilhados frequentemente entre nós. Lembro bem do impacto que nos causou o filme "Inverno", longa metragem gaúcho em super 8, relançado há poucos anos em DVD, cuja trilha incluía o concerto de As quatro estações.
Foto por Roberto Henkin: Werner Schünemann
Werner Schünemann em cena de Inverno (1983), de Carlos Gerbase
Compartilhávamos também uma predileção pela obra de Beto Guedes, que o Sassi considerava, junto com Jon Anderson, um iluminado (mesmo o Beto sendo só compositor, isto é, não tendo escrito ele próprio as grandes letras que cantava), a ponto de ter uma foto do cara num porta retratos.

A Página do Relâmpago Elétrico, primeiro LP individual de Beto Guedes


Livros, livros, livros

Entre meus grandes amigos, todos eles conhecidos há mais de duas décadas, nenhum gostava tanto de ler como eu, com exceção do Sassi. Passatempo de crianças enfermiças que fomos, ele asmático e eu sofrendo de seguidas infecções na garganta, e que só na adolescência adquiriram na rua um grau maior de imunidade.
A literatura era, pois, um de temas preferidos de conversa, e motivo de forte identificação. Ainda lembro, por exemplo, da forte impressão que causou a ele Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo. "Tem que ler!", ele me recomendou, mas até hoje não achei tempo para ler esse tijolo. "O homem e seus símbolos", de Jung, foi outra indicação que não segui, embora tenha lido outros textos dele.

Adicionar legenda

Cecília Meireles era nossa grande musa em comum. Eu acabei comprando quase toda a obra dela em sebos, mas ainda devo ter lá em casa o exemplar de Viagem/Vaga Música que ele me emprestou.

Cecília Meireles (1901-1964)

Da literatura emigrávamos para o país vizinho da filosofia, à qual ele acabou se dedicando mais a fundo, encontrando em mim um interlocutor que, embora diletante, ao menos tinha lido um bocado, mesmo não entendendo a metade. O exemplar dos Pensadores dedicado à Escola de Frankfurt, que ele me emprestou no tempo da faculdade de música, foi uma revelação, sobretudo Benjamin e Adorno, cujo ensaio "O fetichismo na música" eu enchi de anotações a lápis. Bem mais tarde, ele acabou me dando esse livro.
Falar nos Pensadores me lembra um episódio engraçado que aconteceu na primeira vez em que estive na casa do Sassi, ou melhor, no puxadinho que se transformara no quarto dele, com um grau de independência da casa altamente positivo para qualquer guri de 20 anos. Havia ali um mural, e nele uma relação manuscrita desses pensadores, cada um deles seguido por um nome próprio menos conhecido, que servia para lembrar a quem ele havia emprestado cada livro. Era preciso ao mesmo tempo muita ignorância e imaginação para perguntar o que eu perguntei "se aquilo era uma tentativa de associar cada amigo a um filósofo"?!?!?!

O filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969) em raro momento de descontração

50 anos

Nesse último dia 8 de junho estaria o nosso grande amigo Ricardo Martins Sassi completando o seu cinquentenário. Aproveitando as palavras do amigo Flash, também penso que a recordação e a homenagem estão acima de qualquer infortúnio. Os vinte e cinco anos de convivência com o Sassi, metade deles convivendo com a doença que se abateu sobre ele, foram um aprendizado. Um aprendizado de amizade, de parceria, de companheirismo. Entretanto, acima de tudo, uma lição de como saber lidar com as inúmeras dificuldades e necessidades advindas de doenças e traumas. O Sassi passou em nossas vidas para nos ensinar a lidar com estas dificuldades. A nos ensinar a entender e ajudar. Fica a certeza de que se a vida nos trouxer algum infortúnio da mesma natureza, saberemos como enfrentar. Para finalizar, parabenizo, além do Flash, os nossos amigos Arturo e Bayard que, como nós, conseguiram algum tempo na correria do dia-a-dia para escrever algumas palavras nesse blog.
Fica aqui registrada a nossa homenagem e a nossa saudade do grande amigo!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

50 anos esta noite

O tempo passou rápido, sem que eu tivesse postado nada até agora. Neste dia, salvo engano seria o aniversário do Sassi.
Fora do Brasil esta noite, sequer tenho uma imagem scaneada para ilustrar este post. Resta-me escrever.
Um amigo, convidado para colaborar com este blog, declinou do convite, lembrando da sua doença e dos terríveis acontecimentos que protagonizou e sugerindo "meditar e desejar que sua alma, (e a de seus pais) onde quer que estejam, se recuperem do terrivel trauma que estes acontecimentos representaram."
Sem deixar de concordar com quase tudo o que esse amigo escreveu, eu apenas sinto a necessidade de acrescentar que o Ricardo, para quem o conheceu, foi maior do que sua doença e sua tragédia. Penso que lembrar dos bons momentos que compartilhamos não é zombar da tragédia ou da dor de ninguém. E mais, quem sabe falar sobre isso nos ajude a compreender ainda que seja uma pequena parte do que passou. Melhor, em todo o caso, do que tentar colocar uma pedra em cima do que é impossível esquecer, fazendo de conta que nunca existiu.

domingo, 5 de junho de 2011

As festas do Fernando "Europa"

Mais recentemente, uma convivência frequente com nosso amigo Sassi deu-se com a retomada de contato com o Fernando "Europa". Através do Fernando conhecemos outros amigos e organizamos diversas jantas e almoços, alguns no sítio do Fernando em Gravataí.