terça-feira, 14 de junho de 2011

Livros, livros, livros

Entre meus grandes amigos, todos eles conhecidos há mais de duas décadas, nenhum gostava tanto de ler como eu, com exceção do Sassi. Passatempo de crianças enfermiças que fomos, ele asmático e eu sofrendo de seguidas infecções na garganta, e que só na adolescência adquiriram na rua um grau maior de imunidade.
A literatura era, pois, um de temas preferidos de conversa, e motivo de forte identificação. Ainda lembro, por exemplo, da forte impressão que causou a ele Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo. "Tem que ler!", ele me recomendou, mas até hoje não achei tempo para ler esse tijolo. "O homem e seus símbolos", de Jung, foi outra indicação que não segui, embora tenha lido outros textos dele.

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Cecília Meireles era nossa grande musa em comum. Eu acabei comprando quase toda a obra dela em sebos, mas ainda devo ter lá em casa o exemplar de Viagem/Vaga Música que ele me emprestou.

Cecília Meireles (1901-1964)

Da literatura emigrávamos para o país vizinho da filosofia, à qual ele acabou se dedicando mais a fundo, encontrando em mim um interlocutor que, embora diletante, ao menos tinha lido um bocado, mesmo não entendendo a metade. O exemplar dos Pensadores dedicado à Escola de Frankfurt, que ele me emprestou no tempo da faculdade de música, foi uma revelação, sobretudo Benjamin e Adorno, cujo ensaio "O fetichismo na música" eu enchi de anotações a lápis. Bem mais tarde, ele acabou me dando esse livro.
Falar nos Pensadores me lembra um episódio engraçado que aconteceu na primeira vez em que estive na casa do Sassi, ou melhor, no puxadinho que se transformara no quarto dele, com um grau de independência da casa altamente positivo para qualquer guri de 20 anos. Havia ali um mural, e nele uma relação manuscrita desses pensadores, cada um deles seguido por um nome próprio menos conhecido, que servia para lembrar a quem ele havia emprestado cada livro. Era preciso ao mesmo tempo muita ignorância e imaginação para perguntar o que eu perguntei "se aquilo era uma tentativa de associar cada amigo a um filósofo"?!?!?!

O filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969) em raro momento de descontração

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